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Vale o Escrito

Vale o Escrito – A guerra do jogo do bicho, a série documental da Globoplay, lançada em novembro de 2023, explicita de forma contundente tudo o que não se deve fazer na sucessão e governança das organizações empresariais familiares.

 

Antes de avançarmos com o raciocínio, devemos esclarecer que não é nossa intenção enaltecer e nem minimizar o caráter de ilegalidade da atividade, mas sim explorar do ponto de vista de especialistas que somos, os aspectos importantes de uma organização multifamiliar que precisa lidar com desafios da sucessão e governança.

 



O jogo do bicho foi criado há mais de 130 anos e sua estrutura de poder evoluiu para uma divisão de territórios que considera todos os 93 municípios do estado do Rio de Janeiro. No final dos anos 1970, os chefes de cada área chegaram a um entendimento e num acordo de paz que durou anos. Cada um cuidava de sua área e não interferia na atuação dos outros. E criaram a então intitulada “Cúpula dos Contraventores”.

 

A falta repentina de Castor de Andrade, líder de um território, resultou numa sequência de disputas entre seus herdeiros, quebrando de vez o acordo de paz celebrado entre os líderes mais velhos. Assassinatos e traições compõem a trama, que parece não ter fim. Claramente, uma sucessão não planejada.

Aquilo que deveria ser óbvio e esperado - a morte de um dos chefes - foi uma grande surpresa e, como dito no próprio documentário, não haviam estruturas preparadas para lidar com isso.

 

Para a UNE, planejar a sucessão significa legitimar lideranças e processos de decisão e poder de forma consensada entre todos os envolvidos. Tudo deve ser claro, nada deve estar subentendido. E deve ser feita enquanto a atual geração está presente e no comando, com progressiva desaceleração. Planejar a sucessão é, portanto, encarar a finitude, o fato de que todos iremos faltar um dia, e imaginar como as coisas serão na falta do “chefe”. É um exercício de ausência com o objetivo de estruturar um caminho para que isso aconteça da maneira mais suave possível. E, de fato, percorrerem esse caminho juntos, sucessores e sucedidos. Evidentemente aspectos subjetivos das relações familiares, de forças inconscientes, do enfrentamento do envelhecimento, das inseguranças da nova geração, das ambiguidades humanas, da necessidade de reconhecimento e poder tornam esse percurso mais complexo.

 

Todas as organizações familiares precisam de coesão entre os sócios por meio de um acordo societário, de uma estrutura de governança e de um planejamento da sucessão devidamente debatido e formalizado entre todos os envolvidos. Felizes as empresas familiares que podem ter o apoio de profissionais especializados e utilizar todos esses instrumentos de sucessão, que a legislação brasileira coloca à nossa disposição.

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